26 de março de 2011

Escravidão no Brasil



            Ao falarmos em escravidão, é difícil não pensar nos portugueses, espanhóis e ingleses que superlotavam os porões de seus navios de negros africanos, colocando-os a venda de forma desumana e cruel por toda a região da América.
            Sobre este tema, é difícil não nos lembrarmos dos capitães-do-mato que perseguiam os negros que haviam fugido no Brasil, dos Palmares, da Guerra de Secessão dos Estados Unidos, da dedicação e idéias defendidas pelos abolicionistas, e de muitos outros fatos ligados a este assunto.
            Apesar de todas estas citações, a escravidão é bem mais antiga do que o tráfico do povo africano. Ela vem desde os primórdios de nossa historia, quando os povos vencidos em batalhas eram escravizados por seus conquistadores. Podemos citar como exemplo os hebreus, que foram vendidos como escravos desde os começos da História.
            Muitas civilizações usaram e dependeram do trabalho escravo para a execução de tarefas mais pesadas e rudimentares. Grécia e Roma foram umas delas, estas detinham um grande numero de escravos; contudo, muitos de seus escravos eram bem tratados e tiveram a chance de comprar sua liberdade.
            Até o século quinze, os europeus só tinham contato direto com o litoral Norte da África. Mas, a partir de mil novecentos e quarenta e cinco, os navegadores portugueses aprenderam a contornar todo o continente africano.
            Depois os portugueses, os holandeses, os ingleses, os espanhóis, os franceses e até os dinamarqueses também enviaram seus navios para a costa africana.
Inicialmente, os negócios europeus adquiriram marfim, pimenta e ouro. Depois quando teve início a colonização da América, passaram a ter um grande e terrível interesse: Obter escravos.
            A escravidão não era novidade na África. Desde o século onze os árabes adquiriram escravos africanos. Mas os árabes tinham poucos escravos já eram quase livres. De acordo com alguns historiadores, os europeus retiraram cerca de dez milhões da África para levá-los a América!
            Havia duas maneiras de os comerciantes europeus obterem escravos africanos. O primeiro era direto:             Desembarcavam soldados que invadiam uma aldeia e capturaram seus moradores. O segundo modo era indireto. Os povos africanos faziam guerras uns contra os outros e vendiam os prisioneiros para os comerciantes europeus. Algumas nações africanas chegaram a enriquecer atacando outras nações e vendendo os habitantes aos traficantes de escravos árabes e europeus.
            No Brasil, a escravidão teve início porque os brancos tentaram obrigar os índios a trabalhar nos engenhos de açúcar na primeira metade do século dezesseis. os portugueses traziam os negros africanos de suas colônias na África para utilizar como mão-de-obra escrava nos engenhos de açúcar do Nordeste. Os comerciantes de escravos portugueses vendiam os africanos como se fossem mercadorias aqui no Brasil. Os mais saudáveis chegavam a valer o dobro daqueles mais fracos ou velhos.
            Alem disso, nem a igreja nem a coroa se opuseram a essa escravização. A escravidão dos negros era justificada pela sua preexistência na África. O negro era considerado não civilizado e racional mente inferior. A lei protegia de certo modo os índios, mas o escravo negro não tinha direito algum, e era juridicamente considerado como coisa, e não como pessoa.
            Depois de aprisionados em guerras entre os diversos povos na África, os africanos eram acorrentados e marcados com ferro em brasa, como forma de identificação. Então, eram vendidos aos comerciantes europeus, americanos ou africanos que se estabeleciam no litoral da África e vinha para a América nos navios negreiros.
            Os navios negreiros saiam da África com seiscentos escravos em média, embora esse número variasse de acordo com o tipo e o tamanho das embarcações. Receando as possíveis revoltas dos africanos durante a viagem, os traficantes os trancavam nos porões dos negreiros.
            A viagem de Luanda (África) ate Recife (Brasil) duravam geralmente trinta e cinco dias. Até a Bahia, quarenta dias; até o Rio de Janeiro, cerca de dois meses.
            Nos escuros porões dos navios, o espaço era reduzido e o calor, quase insuportável. Além disso, a água era suja e o alimento, insuficiente para todos.
            Devido aos maus tratos e as péssimas condições do transporte, calcula-se que morriam de cinco a vinte e cinco por cento dos negros durante a viagem, sendo que os corpos eram lançados ao mar. Por isto, os navios negreiros eram chamados de “tumbeiros” (palavra referente à tumba) ou “túmulos flutuantes.
            Supõe-se que entre mil quinhentos e cinqüenta e mil oitocentos e cinqüenta e cinco, cerca de quatro milhões de africanos foram trazidos para o Brasil.
            Os atritos entre colonos e jesuítas, pois os primeiros desejavam apenas escravizar os índios, enquanto os segundos pretendiam educá-los e “convencê-los e colaborar”. A catástrofe demográfica provocada pelo extermínio, e doenças também influem para que a escravização indígena ficasse em segundo plano, embora a prática só tenha sido oficialmente proibida em mil setecentos e cinqüenta e oito. A partir da década de mil quinhentos e cinqüenta cresceu a importação de africanos.
            As primeiras regiões do Brasil a receberem escravos africanos foram Bahia e Pernambuco, locais onde a produção de açúcar mais prosperou. Ao longo do século dezessete, o tráfico de escravos chegou a dar mais lucro para a metrópole portuguesa do que o próprio negócio de açúcar.
            Nas fazendas de açúcar ou nas minas de ouro (a partir do século dezoito), os escravos eram tratados da pior forma possível. Trabalhavam muito (de sol à sol), recebendo apenas trapos de roupa e alimentação de péssima qualidade. Passavam as noites nas senzalas (galpões escuros, úmidos e com pouca higiene) acorrentados para evitar fugas. Eram constantemente castigados fisicamente, sendo que o açoite era a punição mais comum no Brasil Colônia.
            Eram proibidos de praticar sua religião de origem africana ou de realizar suas festas e rituais africanos. Tinham que seguir a religião católica, imposta pelos senhores de engenho, adotar a língua portuguesa  na comunicação. Mesmo com todas as imposições e restrições, não deixaram a cultura africana se apagar. Escondidos, realizavam seus rituais, praticavam suas festas, mantiveram suas representações artísticas e até desenvolveram uma forma de luta: a capoeira.
            As mulheres negras também sofreram muito com a escravidão, embora os senhores de engenho utilizassem esta mão-de-obra, principalmente, para trabalhos domésticos, cozinheiras, arrumadeiras e até mesmo amas de leite foram comuns naquele tempo da colônia.
            No Século do Ouro (Dezoito) alguns escravos conseguiram comprar sua liberdade após adquirirem a carta de alforria. Juntando alguns “trocados” durante toda a vida, conseguiam tornarem-se livres. Porém, as poucas oportunidades e o preconceito da sociedade acabavam fechando as portas para estas pessoas.
            O negro também reagiu a escravidão, buscando uma vida digna. Foram comuns as revoltas nas fazendas em que grupos de escravos fugiam, formando na floresta os famosos quilombos. Estes, eram comunidades bem organizadas, onde imigrantes viviam em liberdade, através de uma organização comunitária aos moldes do que existia na África. Nos quilombos, podiam praticar sua cultura, falar sua língua e exercer seus rituais religiosos. O mais famoso foi o Quilombo de Palmares, comandado por Zumbi.
            A partir da metade do século dezenove a escravidão no Brasil passou a ser contestada pela Inglaterra. Interessada em ampliar seu mercado consumidor no Brasil e no mundo, o Parlamento Inglês aprovou a Lei Bill Aberdeen (mil oitocentos e quarenta e cinco), que proibia o trafico de escravos, dando o poder os ingleses de abordarem e aprisionarem navios de países que faziam esta prática.
            Em mil oitocentos e quarenta e cinco, o Brasil cedeu ás pressões inglesas e aprovou a Lei Eusébio de Queiróz que acabou com o trafico negreiro. Em vinte oito de setembro de mil oitocentos e setenta e um era aprovada a Lei do Ventre Livre que dava liberdade aos filhos de escravos nascidos a partir daquela data. E no ano de mil oitocentos e oitenta e cinco era promulgada a Lei dos Sexagenários que garantia que garantia a liberdade aos escravos com mais de sessenta anos de idade.
            Somente no final do século dezenove é que a escravidão foi mundialmente proibida. Aqui no Brasil sua abolição se deu em treze de maio de mil oitocentos e oitenta e oito com a promulgação da Lei Áurea, feita pela Princesa Isabel.  
       
Bibliografia
COTRIM, Gilberto. Saber e fazer História, 6ª série. São Paulo: Saraiva, 1999.
SCHMIDT, Mario Furley. Nova História crítica. São Paulo: Nova Geração, 1999.

Tráfico Negreiro
Tráfico negreiro
Cenas do tráfico negreiro retratadas no carnaval do Rio de Janeiro
            Os primeiros escravos africanos teriam chegado ao Brasil com a expedição de Martim Afonso de Sousa que portou no litoral paulista (São Vicente), em 1531. Contudo, o tráfico negreiro para o Brasil somente foi regulamentado em 1550, por um ato de D. João III, rei de Portugal na época. Assim, desse ano até meados do século XVII, 350 mil africanos já tinham sido introduzidos nas plantações de cana-de-açúcar brasileiras.
            No século XVIII, o número do tráfico chegaria a 1.600 mil, exigidos pela mineração e pela lavoura de exportação (algodão e açúcar) e que dobraria na primeira metade do século XIX, com a lavoura cafeeira. Segundo Roberto Simonsen, até 1850, quando foi extinto o tráfico negreiro, foram trazidos para o Brasil, aproximadamente, 3.300 mil africanos.


O tráfico de Escravos

            O tráfico negreiro na costa africana se dava de várias maneiras: poderiam ser adquiridos de mercadores muçulmanos ou diretamente de chefes africanos sempre dispostos a vender seus cativos e, até mesmo, seus súditos.             Os portugueses também se valiam das desavenças entre grupos tribais, normalmente terminadas em lutas e, conseqüentemente, escravos, além da corrupção dos pais, que não hesitavam em vender seus próprios filhos. Nas trocas para a aquisição de escravos (escambo), usava-se como forma de pagamento desde a aguardente, tabaco e armas, até miçangas, quinquilharias e outras bugigangas. Nas viagens, a bordo dos navios negreiros (tumbeiros), perdiam-se aproximadamente 40% do total de "peças" embarcadas. Em alguns casos, chegavam a mais de 60%.
            Já na América, o negro era submetido à violência da escravidão capitalista, sem precedente na História da Humanidade, uma vez que, nesta, o trabalhador era simplesmente um objeto, uma peça (coisa ou res), ao contrário do escravismo praticado na Antiguidade.
            Os sudaneses, caracterizados pela elevada estatura, foram introduzidos em grande número através do tráfico negreiro nos engenhos de açúcar da Bahia, embora já conhecessem os trabalhos com metais. Os bantus, de estatura mais baixa, eram mais numerosos e preferidos para os trabalhos na agricultura. Por isso, foi o grupo que mais se espalhou pelo Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Alagoas, Maranhão e Pará. Os guineanos-sudaneses eram minoritários e foram muito usados nas plantações da Bahia; pelo fato de serem islamizados, souberam expressar a reação contra o branco dominador, sendo por isso temidas as suas rebeliões.

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